sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Hipocrisia!


Estava eu sentada no meu computador enquanto a TV, ligada, passava o Jornal Nacional, o qual minha mamys assistia. Ouvi então a chamada para a próxima reportagem e era sobre as cotas para estudantes negros, pardos, índios, amarelos, coloridos, caras pintadas, caras de pau!

Sim! Fiquei indignada, mas não indignada com a política de cotas, somente, mas com os estudantes que a elas se "submetem". Estudas hipócritas, num país hipócrita com cotas mais hipócritas ainda.

Hipocrisia
hi.po.cri.si.a
sf (gr hypókrisis+ia1) Manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, devoção religiosa, compaixão etc.; fingimento, falsidade.

Durante anos uma parcela larga da população foi discriminalizada, sofrendo do pior mal que uma sociedade pode sofrer, a segregação por conta da diferença racial, como se isso fosse uma doença constagiosa, que pudesse fazer toda uma população desaparecer, ser exterminada, como se fosse um mal, uma praga deixada na Terra por Deus, para nos lembrar de que cada um ocupa um lugar na piramide e de que isso não pode e nem deve ser alterado.

Quantas pessoas morreram por conta disso ao redor do mundo, quantas barbáries foram cometidas em prol da hegemonia da raça branca, ariana, loira, verde, azul? É só lembrarmos do Apartheid e do massacre durante a 2ª Guerra Mundial.

Tantas foram as lutas e tantas foram as conquistas, dolorosas conquistas, mas que vieram, cedo ou tarde, vieram, não sem perdas. E hoje, bem... Hoje os seus descendentes, descendetes daqueles que lutaram, que deram a vida, a cara a tapa para deixar aos seus descendentes uma sociedade mais "justa", mais compreensiva, mais tolerante, exigem do Governo que se estabeleçam cotas para o ingresso nas Universidades Públicas do país, cotas essas que são estabelecidas de acordo com a cor da pele de cada um, como se isso os fizesse menos capazes de passar num vestibular.

Quem não se lembra, em meados de 2001, das diversas manifestações feitas pelos estudantes que seriam favorecidos com essa nova política, acorrentados e segurando faixas pedindo pela aprovação da Lei, como se ela fosse a única e última tábua de salvação, como se sem isso eles fossem ficar fadados ao não ingresso nas ditas Universidades por serem "incapazes".

Pois é, é isso que me revolta, e que me deixa indignada. Durante anos o preconceito foi tido como um "defeito" do homem branco, mas não é assim, não é tão ferro e fogo. O preconceito é também do homem negro/pardo/índio, é ele quem se coloca numa situação preconceituosa quando não só aceita medidas como essa, como clama por elas.

De que adiantou tanto sofrimento para libertar a sociedade desse estigma se, hoje, aqueles que deveriam ser livres e gozar dessa igualdade preferem ser tratados de forma desigual, preferem ser taxados de "incapazes" sob a escusa de, assim, terem preferencias e privilégios na hora de tentarem a carreira universitária?

Eu concordo sim com o sistema de cotas, e acho que é um bom sistema, se fosse bem aplicado, se fosse aplicado de forma coerente, se fosse utilizado para gerar justiça. Justiça no sentido de tratar de forma desigual os desiguais.

Acredito num sistema de cotas que privilegia aqueles que, durante toda sua vida ou boa parte dela, estudaram em escolas públicas, escolas essas que oferecem um ensino tão precário e pobre que impossibilita seus estudantes de terem acesso às universidades populares, às universidades federais, públicas, que são repletas de alunos classe média, média-alta, por terem tido a oportunidade de estudar em bons colégios ou pagar bons cursinhos pré-vestibulares.

Fora isso, esse sistema nada mais é do que uma forma velada e hipócrita de preconceito, sendo avalizado por aqueles deveriam combatê-lo.

2 comentários:

Unknown disse...

É mais fácil criar sistema de cotas do que investir em escolas, com profissionais qualificados, livros atualizados, onde visem o desenvolvimento crítico do aluno, e não só o seu adestramento. Junte isso ao espírito de vítima de pessoas que se sentem excluídas, que acham que tem que ser eternamente lembradas como grandes injustiçadas, e esquecem que além delas, há crianças brancas, índias, pardas, azuis, verdes, rosas e beges e claro, tb as negras, com a msm necessidade de ingressarem numa universidade quando estiverem em idade para tal.

Concordo com o sistema de cotas para alunos que vem de escolas públicas, mas infelizmente, como educadora, não acho que essa é a solução definitiva. Definitivo mesmo é nossos políticos tomarem vergonha na cara e investir em educação de qualidade.

Cih disse...

Oi Danny! Tô indignada com isso,sempre em meio á discussões sobre o assunto eu defendia a cota para alunos de escolas públicas porque eu sempre presenciei que a qualidade de enino tem uma diferença enorme com a da escola particular,muitos amigos meus que escolas particulares discordavam,falavam sobre "capacidade" e outras desculpas usadas pra maquiar a situação do ensino público,colocando somente no aluno a responsabilidade de engressar em uma faculdade pública que convenhamos,inicialmente foi feita para nós,os alunos de escola pública,que hoje tem que se submeter á uma concorrência desleal,assim como a Tah,também acho,que as bases de ensino é que devem ser recriadas.E as cotas para negros é uma coisa realmente absurda,e como vc mesma disse,de nada adiantou todas as lutas do passado se a desigualdade está sendo colocada para que desça goela abaixo,hipocresia e vergonha!
Beijos