quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Retrato"

As coisas mudam, tudo muda, o tempo é implacável com todos. Mudam as estações, as cores, as tendências. Mudam os comportamentos, os sentimentos (as vezes), os "ir" e "vir". Uns chegam enquanto outros saem. Uns deixam saudades, outros deixam a paz. Uns deixam memórias, outros deixam marcas. 

Lendo esse poema que alguém postou hoje, me dei conta que não me reconheço mais no reflexo do espelho. Anseio encontrar a Dani ou a Danny, aquela que tinha boca aberta, destemida (e complexada, como diriam alguns), que ligava o f*-se e que era auto-suficiente pelo menos na maior parte do tempo (porque o tempo todo é impossível pra alguém que, como eu, é assumidamente "carnal"), mas tudo que eu vejo são restos do que não acabou, são traços do incerto e uma nuvem de quem busca se encontrar novamente.

Como uma luz no fim do túnel, aquele fio de esperança, eu anseio pelo amanhã, pelo novo, pela novidade. Pela alegria descompromissada, pelo sorriso sincero e espero, de verdade, voltar a ver a "menina dos olhos verdes" no espelho.

Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
( Cecília Meireles )

(Obra poética, Volume 4, Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira. Companhia J. Aguilar Editora, 1958, p. 10)

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