Minha mãe tem a mania de acordar com o noticiário, seja ele qual for, ela diz que é a única fonte de notícias que ela tem durante todo o dia e, hoje, o escolhido foi o Jornal do SBT. Não sei bem o que eles estavam comentando, pois confesso que estava dormindo em pé as 5:30 da manhã, mas me chamou atenção o fato de, de repente, ouvir um soneto (que eu gosto muito e ha muito tempo) de Augusto dos Anjos sendo recitado por um dos comentaristas.
Augusto dos Anjos não é, tipicamente, um literário que se costume citar em jornais e publicações, não, na verdade, um literário que se costume citar seja qual for a circunstância, talvez pelos seus temas sempre obscuros, vulgares e pesados, mas, eu também gosto de obscuro. Pra quem leu meu último post, viu que eu gosto de romance. Bom, eis aqui outra faceta minha.
Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
(Augusto dos Anjos)
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